Praia

tazio zambi
2 min readDec 27, 2020

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Rio dos Macacos. Ou dos Macacos Grandes. Na etimologia feita a facão, servida em pratos limpos, pra engabelar turistas otários que carregam mais perguntas que malas. Entre lances de damas de tampas de garrafas pet, a memória malandra dos velhos sentados nas portas de casa. Caçam a fresca entre redemoinhos que brincam com sacos e folhas secas em seus quintais atlânticos.

O riso escanchado dum jasmim-manga dá vez a essa procissão de olhos de camaleão que somos. A rua larga é meio caminho, meio buraco, e sacudimos como pipocas em direção à boca banguela do mar que há de nos mastigar de levinho.

Saguis nos escoltam. Cruzam os céus nos fios elétricos. Riem baixo em sinal de respeito.

Descemos do carro pra sacar que aqui o silêncio berra e aberra. Os urubus bebem a água das piscinas. Andam a pé empertigados como playboys e abrem as asas se desafiando. Os caseiros das casas ajardinadas, de cócoras, pitando seus fumos, cavucando debaixo das unhas, pensando nuvens. Lhes fazem companhia os cachorros, que se coçam e se coçam tentando se livrar do tédio e das pulgas que os acossam. Os motoqueiros equilibram os capacetes inúteis sobre as testas, leem mensagens, e acenam pras moças de meias-calças nas cabeças, plantadas nas portas de casa como palmeiras. Assaltos e mangas orientam as conversas sussurradas. Enquanto isso, os urubus continuam bebendo água das piscinas, e nem mesmo o salto de um gato valente os dissuade.

Daí a praia. A areia branca, um incêndio camuflado de areia branca. Corre-se de alegria e dor na paisagem deserta e calada que cala. A gente emerge de um mergulho ao lado de um barco chamado “Alegria”, o peso do sol em nossos ombros, o eterno chape-chape verdazul, e já está enxugando o suor da testa sob a carícia bruta da maresia. Lá longe, um jetski desliza sobre o mar de gelatina limão, mela de fumaça de diesel a brisa. Atravessa o chiado grave e monótono do mar um som fininho de broca que fura esse cartão-postal em chamas.

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